Press - Interviews
23rd August 2001
Interview for Riff #22

THANATOSCHIZO
INSANIDADE ME(N)TAL

ESQUIZOFRENIA - Psicose delirante crónica, caracterizada por uma discordância do pensamento, da vida emocional e da relação com o mundo exterior.

Click for a larger viewOs portugueses ThanatoSchizo (anteriormente conhecidos como Thanatos) surgiram na cena com o EP "Melégnia" em 1999 e cedo despertaram alguma atenção. A um tipo de som difícil de catalogar, a banda juntava uma invulgar energia nos concertos ao vivo e uma certa aura de mistério à volta dos elementos do grupo. Depois de uma tourné nacional com The Firstborn muito bem aceite, os Thanatos recolheram-se num "casulo" de onde saíram este ano com a nova designação "ThanatoSchizO" e o primeiro álbum de originais, "Schizo Level". "Schizo Level" é um dos grandes momentos da cena portuguesa de 2001: um álbum de muita qualidade que revela uma evolução notória por parte da banda de Santa Marta de Penaguião. O guitarrista Guilhermino (G) e o vocalista Eduardo (E) estiveram à conversa com a Riff a propósito deste novo álbum.

Vocês aparecem neste álbum com um line-up, nome e sonoridade diferentes em relação ao EP "Melégnia". Vocês mudaram, desde a edição do EP, ou simplesmente evoluíram?
G -
Depois da "Chaos & Desorder Tour" do ano passado, que terminou em Outubro - embora tenhamos feito depois mais um concerto no Hard Club com os Tarântula - decidimos parar para pensar. Nós já tínhamos pelo menos metade do álbum composto, mas faltava algo. O que decidimos então foi pura e simplesmente prescindir dos serviços do António, o nosso anterior vocalista, e procurar algo diferente. Contactámos alguns vocalistas de bandas amigas para saber da disponibilidade deles para nos ajudarem na gravação do CD, mas o vocalista ideal para nós estava debaixo dos nossos olhos. O Eduardo no fundo é nosso vizinho - já vocalizou em algumas bandas de Black e Death Metal aqui da zona - e atingiu nos últimos anos uma maturidade a nível vocal e de filosofia de vida da qual não poderíamos prescindir. Em cerca de três meses - que foi o tempo que mediou a entrada do Eduardo e a gravação final do CD - ele conseguiu fazer algo que era inimaginável para nós seis meses antes: vocalizou os temas todos da forma mais perfeita que até então tínhamos pretendido e ainda conseguiu incluir letras dele no álbum. Nós decidimos arriscar e mudar. Respondendo mais directamente à tua pergunta, acho que foi uma evolução natural, acompanhada de alguns percalços a nível de line-up, com a saída do baixista por motivos de saúde e com a saída do vocalista que - essa sim - foi mesmo pensada. É uma continuação lógica, mas talvez mais arriscada.

Foi uma evolução algo radical. Vocês tornaram-se, de certa forma, um pouco irreconhecíveis para quem vos ouviu no EP...
G -
Eu não diria tanto... o EP "Melégnia" foi gravado em 1999 e nós compusemos aqueles temas entre finais de 1997 e 1998. Quando eu olho para o EP a sensação que eu tenho é que ele deixa uma série de portas abertas pelas quais poderíamos enveredar num álbum seguinte. Nós exploramos uma vertente que deixámos em aberto. Uma vertente por um lado mais pesada, e por outro lado mais esquizofrénica, menos linear do que o EP.

E porquê a mudança de nome para ThanatoSchizO? Teve alguma coisa a ver com a volta ao activo dos Thanatos holandeses?
G -
Teve e não teve. Ao longo dos últimos anos nós apercebemo-nos - alguns de nós são cibernautas - que existem uma série de bandas em todo o mundo com esse nome. Para nós deixou, de certo modo, de ter sentido ter uma banda com um nome que já era usado por mais seis ou sete entidades. Assim que a edição deste álbum se tornou eminente, se queríamos mudar de nome tinha que ser nessa altura. Decidimos então acrescentar o "SchizO" porque nos parece adequado àquilo que nós vamos fazer daqui para a frente, e ao que tínhamos feito antes, e porque concilia os dois nomes, o passado com o futuro, se assim posso dizer. "Thanatos", que era o deus da morte, ou em termos psicológicos a tendência que as pessoas têm para morte e para o abismo, com este lado mais psicótico, mais "schizo", que talvez seja o nosso futuro.

E tu, Eduardo, sentes-te de algum modo a parte "SchizO" dos ThanatoSchizo, já que entraste na altura da tal convulsão?
E -
Eu sinto-me mais como um braço da banda. Sinto-me perfeitamente bem e integrado...

Não é complicado entrar numa banda já formada e com um passado? Quão diferente é entrar para uma banda de formar uma banda?
E -
Com os ThanatoSchizO foi um caso diferente... eu já os conhecia há muitos anos, sempre fui amigo deles desde pequeno. Já conhecia as tendências deles, os ideais e o que todos gostam de fazer. Dentro do possível e da minha maneira de ser, encaixei-me perfeitamente. Pelo menos sinto-me muito bem...

Em relação ao álbum "Schizo Level"... vocês estão plenamente satisfeitos com ele? Mudariam alguma coisa no álbum agora, se pudessem?
E -
Não, de maneira nenhuma. Estamos plenamente satisfeitos. Falo por todos porque os conheço bem, e sei que estamos todos plenamente satisfeitos.
G - Obviamente. Sem dúvida.

Mesmo a nível de produção?
G -
A produção é um dos pontos mais fortes do álbum. Já ouvi o disco em várias aparelhagens - eu faço questão de ouvir tudo o que gravo em diversos tipos de aparelhagens - e não tenho a menor dúvida de que foi uma das melhores produções saídas do Rec N' Roll desde sempre.

O álbum é muito variado, musicalmente. Vocês não têm medo que isso seja uma espécie de travão comercial, já que o disco não encaixa em nenhuma "prateleira" específica?
G -
Eu acho que isso é uma perspectiva demasiado comercial. Hoje quando abro as revistas, o que vejo inerente às críticas não é necessariamente a qualidade dos álbuns, e sim o valor comercial dos mesmos. Isso irrita-me. A mim não me interessa que um álbum venda 10 ou cem mil cópias. A mim o que me interessa é se um álbum é bom ou mau. Quando nós fazemos alguma coisa, não a fazemos para vender, como é natural. Se quiséssemos vender discos não estávamos numa banda de Metal. A nossa concepção é primeiro fazer música que nos agrade. Claro que se a música agradar às outras pessoas, tanto melhor. Em relação à variedade do som... quem nos conhece já sabe que nós somos tudo menos limitados, e a última coisa que nós queremos fazer é estar presos a seja o que fôr. A nível de composição somos totalmente livres e não existe qualquer tipo de barreira. As coisas foram simplesmente surgindo, e é assim que vai continuar a acontecer...

Em relação às letras, esta é a continuação do conceito que vocês iniciaram com o EP, não é?
G -
No EP abordámos uma faceta mais medieval, um conto épico chamemo-lhe assim, que é a saga de Suturn. Com este álbum fizemos uma aproximação a essa mesma faceta, mas de um ponto de vista mais actual, ou mesmo mais futurista. Existe, para além disso, alguma confusão sobre se Suturn é realmente alguma personagem ou se é algo de nós. Isso é algo que nós deixamos ficar sempre no ar... mas voltando à abordagem neste "Schizo Level", é sem dúvida uma abordagem actual... actual, mas futurista.

"Schizo Level" foi editado por uma nova editora portuguesa. Como é que chegaram a acordo com a Misdeed Records? Que outras propostas tiveram?
G -
Desde o "Melégnia", que nós auto-financiámos em MCD, que começámos a ter contacto com uma série de entidades na cena, não só a nível nacional como internacional. Ao longo do tempo nós fomos construindo uma séria amizade e fomos constatando que as pessoas ligadas à actual Misdeed Records - que na altura não era propriamente uma editora, mas que já tinha planos para o ser - eram as pessoas mais sérias na cena em Portugal. Para além da honestidade dessas pessoas, havia uma relação de respeito mútuo que nós admiramos desde o início, e que é uma coisa rara nos dias que correm, pelo menos em Portugal. Quando optámos pela gravação do novo álbum, depois de terminada a "Chaos & Disorder Tour", tivemos quatro ou cinco propostas, e tornou-se quase natural, sem sequer olhar para o lado, assinar pela Misdeed Records, porque nos dava garantias de profissionalismo e, acima de tudo, savoir faire, que é uma coisa que hoje em dia não abunda.

Vocês são uma banda muito activa em termos de concertos. Tendo em conta esse facto, junto com os planos de eventuais novas gravações e composições, como é que vai ser o vosso futuro mais próximo?
G -
Como dizes, somos hiperactivos a nível de concertos. Mas neste momento ainda estamos mais hiperactivos, porque já não tocamos desde Outubro...
E - Estamos mesmo em chamas (risos).
G - O primeiro passo é deixar o álbum 'respirar' um pouco - digamos, uns dois meses. A partir daí vamos começar de novo uma tourné, que não vai ser a "Chaos & Disorder Tour" parte 2, mas que terá outro nome. Desta vez seremos nós os cabeças de cartaz, e seremos ladeados por uma banda que respeitamos muito e que são nosso amigos: os Perpetual Flame, de Leiria. Vamos, por isso, entrar numa série interminável de concertos, se calhar não tantos como da última vez porque também vamos aprendendo quais são os sítios onde podemos voltar ou não e quais são os sítios com melhor qualidade e com melhores condições. Em relação ao próximo trabalho, nós não paramos e já temos alguns temas prontos. Três ou quatro. Queremos gravar o álbum no fim do ano. Queremos, e até ver a Misdeed concorda com a nossa posição, gravar o álbum a meio da tourné, continuar a tourné, e quando a acabarmos, com o 'timing' certo, editar o novo álbum aproximadamente daqui a um ano.

Obrigado pela entrevista. Boa sorte para este álbum.
Nós é que agradecemos. Estamos muito gratos ao pessoal da Riff, que nos tem apoiado desde o início da revista.

Susana Vargas

13 NÍVEIS DE ESQUIZOFRENIA
("Schizo Level" tema-a-tema explicado por Guilhermino Martins)

RAW
É o tema mais rápido e brutal que nós escrevemos e que encerra em si uma analogia bastante dúbia, chamemo-lhe assim. Consegue misturar algo muito Metal, muito extremo como o Black Metal, com uma secção de metais - um trombone e um trompete. A nível lírico preferia não desenvolver assim tanto o conceito, mas posso dizer que acaba por ser uma sátira ao estado actual das coisas no Metal, mas sempre usando essa sátira dentro do conceito inerente ao disco. Nada ali cai por acaso, as coisas são todas continuadas e derivam de um conto que nós vamos interpretando.

SUTURN
A letra foi escrita por mim (Guilhermino - ed.), e faz uma abordagem pessoal daquilo que Suturn é. Gira à volta da personagem Suturn, e está lá tudo, por assim dizer.

PATHEON
Entra por um clima mais asiático, com samplers nipónicos e em que fazemos uma abordagem universal da personagem. No nosso conceito, o Suturn não é necessariamente uma pessoa. Pode ser perfeitamente um tipo de pessoa, que pode existir tanto no Japão como na Índia. Tem a ver mais com a personalidade do que propriamente com a pessoa.

WITHERING ART
É um tema com uma batida muito activa, muito 'old school' Thrash Metal. No meio do tema temos os 'atrofios' habituais que nos são inerentes. A letra descreve toda a preocupação e problemas do personagem. Todo o nihilismo, toda a catástrofe que está relacionada com ele.

NIGHTMARES WITHIN
É talvez o tema mais calmo do CD, em que usamos uma flauta. Tem um ambiente deprimentemente belo, que encerra em si uma melancolia. Acho que é o seguimento lógico do tema anterior, o "Withering Art". Os dois temas são a "base triste" do personagem. O lado mais negro, por assim dizer.

CÂNTICO NEGRO
Esse talvez seja o único tema do álbum que transcende um pouco o personagem. Nós optámos por incluir um poema de José Régio porque achamos que ele descreve perfeitamente aquilo que nós somos. A quem não conhece José Régio, aconselho profundamente. Principalmente este poema... se possível através de nós. Ele consegue descrever exactamente o nosso individualismo, a nossa independência e a vontade de fazermos as coisas como nós queremos.

TIGER'S DOOM
É um tema algo semelhante ao "Patheon" porque também usa uma abordagem étnica. Desta vez usamos samplers indianos. É sem dúvida o tema mais esquizofrénico do álbum. É construído com base numa bateria e num baixo muito pouco ortodoxos, o que só vem sublinhar ainda mais a nossa faceta pouco dada a coisas pré-definidas. Em termos líricos o tema descreve uma metáfora e compara a lenda indiana do tigre com o personagem Suturn.

LOVE & BREATH
É um tema composto como introdução para o tema seguinte. Não tem letra, é apenas uma variação com piano e guitarra acústica do tema seguinte.

A DAY...
É um tema que revela as últimas influências que nós temos sentido em termos musicais. Tem uma veia mais Doom, e talvez seja dos poucos temas no álbum onde se consegue discernir influências de algumas bandas. Sobre a letra é melhor não falar muito, porque perderia muita da magia que encerra. Reflecte um pouco sobre se realmente sabemos o que é bom ou não, e onde estaremos melhor...

BIG BANG
Este tema surgiu praticamente nos últimos dias de gravação, em que contámos com a colaboração de um baixista nosso amigo, que veio ajudar-nos com as partes de baixo mais complicadas a nível de tempos. Ele sugeriu-nos esta construção, que nós achamos simplesmente genial, e que não poderíamos de modo nenhum desperdiçar. Com autorização dele incluímos o tema, e adequa-se perfeitamente à dinâmica do álbum.

NAUSEA
Foi talvez o último tema que fizemos. É assente também numa base muito pouco ortodoxa em termos de ritmos. Encerra com um solo muito emotivo, depois de uma letra que, de certo modo, vai buscar os mesmos aspectos transmitidos em "Withering Art".

THANATOS
É, mais uma vez, uma analogia entre Suturn e outro personagem. Desta vez o outro personagem é Thanatos e nessa analogia estamos afinal a prestar a nossa homenagem a essa entidade que tanto nos tem influenciado desde o início da banda, e nos influenciará no futuro, sem qualquer dúvida. É um hino a Thanatos. Uma das faixas preferidas do nosso vocalista Eduardo.

WEIRD CURSE
Este tema não tem letra, embora tenha várias participações vocais. É construído numa base de samples, uma batida industrial e um baixo repetitivo por cima, de forma a criar um ambiente psicótico. No fim do tema, como faixa escondida, temos uma espécie de revisão, ao piano, do tema "Nightmares Within", e que eu considero que talvez seja o ponto mais intenso de todo o álbum, e é por isso que o fecha. É uma 'reprise' de um tema que já de si é belo, mas que aqui se exponencia em termos de

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