Press - Interviews
24th December 2002
Interview for Loud! Magazine #25

Click for a larger viewThanatoSchizO
- O Lado Negro da Alma-

Algumas mudanças - de nome, por exemplo, de Thanatos para ThanatoSchizO - fizeram com que a banda de Sta. Marta de Penaguião desse um salto, a todos os níveis, na sua carreira. Sob esta designação lançaram - no ano transacto - "Schizo Level", que agora se vê ultrapassado por uma viagem negra de seis almas que apresentam - através da independente britânica,. Rage of Achilles - "InsomniousNightLift". Para que o caminha ficasse bem iluminado a Loud! pediu ajuda a Guilhermino Martins [guitarra, samples] e Patrícia Rodrigues [voz].

Depois das boas reacções que obtiveram no passado com a edição do MCD "Melégnia" e do álbum "Schizo Level", como é que está a ser este primeiro contacto com o novo "InsomniousNightLift"?
Guilhermino: À partida as reacções estão a ser de algum espanto, porque a nossa sonoridade -mais uma vez- sofreu uma certa evolução. Se no "Schizo Level" - de certa forma - descodificámos partes de metal extremo, desde o black ao death metal passando por algum doom, desta vez focamos as nossas atenções essencialmente num só estilo, coisa que até aqui era impensável no nosso som. Desta vez focamo-nos mais no doom e death metal para que o resultado fosse o mais homogéneo possível. Perante toda esta transformação, as reacções acabam por ser satisfatórias. Inicialmente estamos perante um som algo diferente no sentido da maturidade, mas depois quando as pessoas se habituam a esta complexa textura acabam por adorar. É certo que ainda estamos na fase de arranque no sector promocional, mas estamos convencidos de que o feedback vai ser maior quando o trabalho estiver a ser absorvido em pleno.

Esta complexa teia de sons acaba por ser uma evolução natural ou já tinham tudo isto premeditado para que assim acontecesse?
Guilhermino:
São duas as vertentes que acabam por se fundir numa só. É natural porque quando vamos para os ensaios queremos crescer e fazer sempre melhor, corrigindo alguns erros cometidos no passado. E é também premeditada porque este - como costumamos dizer no seio da banda - era o álbum que já queríamos gravar há cinco ou seis anos só que ainda não tínhamos tido a possibilidade de o fazer - quer em termos de maturação psicológica dos elementos, quer da própria evolução técnica. No entanto, no contexto geral acaba por ser uma evolução que acontece da forma mais natural possível.

Com o anterior disco mostraram uma abertura musical impressionante ao conciliarem brutalidade e melodia na perfeição e conjugando diversos estilos. De certa forma, "InsomniousNightLift" acaba por ser uma continuidade mais madura, mas com o tão desejado passo de gigante a todos os níveis.
Guilhermino:
Sim. Penso que não temos dúvidas quanto a isso. Além de todo o factor evolutivo, aquilo que aconteceu em relação ao trabalho anterior foi concentrarmo-nos apenas num só estilo, ou seja, de uma forma não pensada, não estudada, olhámos para aquilo que tínhamos feito ao longo da nossa carreira e tentámos fazer melhor, o que nos levou a concluir que aquela abordagem mais death/doom metal, mais arrastada, mais pesada e introspectiva acaba por ser aquilo que - neste momento - sabemos fazer melhor. Com tudo isto como resultado final, esta é a certeza absoluta de que os ThanatoSchizO conseguiram criar o seu próprio som.

O Eduardo Paulo, que é o vosso vocalista, foi quem compôs quase todos os riffs do disco, certo?
Guilhermino:
Certíssimo, ele compôs três quartos dos riffs existentes no disco. É um excelente guitarrista acústico que nos surpreendeu com algumas partes muito boas e que depois acabámos por transformar para serem tocadas em guitarra eléctrica. Acaba por ser um dos grandes responsáveis pela excelente composição do álbum.

Outra voz que aparece no disco é a da Patrícia. Nota-se uma subida de patamar na tua prestação em relação ao "Schizo Level", ou seja, está muito bem estruturada, o que veio dar um certo brilhantismo à complexidade e negritude dos temas. Concordam?
Patrícia:
Neste álbum, a minha voz está melhor e muito bem trabalhada, porque tivemos muito mais tempo para preparar todo o trabalho, sem esquecer também a própria maturidade feminina que me deu outra consistência. Quanto ao brilho que faço chegar aos temas através da minha voz, acaba por ser o resultado de uma entrega total - corpo e alma - e de uma interiorização face à vivência lírica do álbum, que de certa forma fez com que o poder vocal saísse mais natural e mais sensível.
Guilhermino: Uma coisa com que nos preocupámos foi não só incluir vozes femininas nas partes calmas e vozes masculinas nas partes mais pesadas, mas o oposto: as femininas - angelicais - nas partes pesadas e as masculinas - limpas - nas calmas, o que acabou por ser um contraste estranho, mas cativante. Só assim conseguimos fugir à monotonia que caracteriza muitos trabalhos de doom metal.

Ao analisar o trabalho reparei que "The Journey's Shiver" tem umas passagens a roçar o rock progressivo dos anos 70 e também me pareceu ser um dos temas mais acessíveis do disco. Concordam?
Guilhermino:
Nomes como King Crimson, Pink Floyd, entre outros, deram-nos uma mística que talvez se faça sentir em algumas passagens. Quanto ao ser mais acessível parece-me que "Sublime Loss" é muito mais directo. Saliente-se também que no site da banda "The Journey's Shiver" acaba por ser o tema que os fãs comentam e mais gostam. A sua composição foi muito simples, o que torna - talvez - mais directo e que só nos leva a concordar com a teoria de que quanto mais simples melhor.

Acaba por ser um paradoxo perante aquilo que fazem...
Guilhermino:
Exactamente. [risos] Ao longo desta caminhada vamos sempre aprendendo, não querendo dizer com isto que o próximo álbum vai ser feito com dez temas tão directos, mas tenho a perfeita consciência de que os temas mais simples e directos - aqueles que são mais fáceis de tocar - são aqueles que os ouvintes assimilam melhor.

Como membro e parte activa na composição de cada trabalho de ThanatoSchizO quais são as diferenças enter este registo e "Schizo Level"?
Guilhermino:
Em termos de brutalidade desacelerámos um pouco, mas o peso está lá todo, o que o torna um disco muito mais intenso. Em termos de composição, houve uma maior preocupação com os arranjos. Tendo em conta que a maior parte dos riffs partiram do Eduardo, a banda acabou por ficar mais liberta para se preocupar exactamente com isso. Tivemos todo o tempo para encontrar sons o mais estranhos possíveis do teclado, tentar criar melodias de baixo antagónicas. Na altura do "Schizo Level" não nos preocupámos muito com as colocações das vozes e desta vez tivemos cerca de três meses de trabalho intenso, o que permitiu, principalmente à Patrícia, incrementar a beleza e a qualidade da própria voz.
Patrícia: No aspecto lírico relatámos uma viagem pelo interior da mente humana, onde é encontrado o lado negro da alma. Das nove letras apenas escrevi duas - o Eduardo compôs as restantes - e, sem ter conhecimento do que o nosso vocalista escrevia, fui ao encontro dele, ou seja, estivemos em perfeita sintonia.
Guilhermino: De certa forma cortámos um bocado com o passado. Até aqui abordávamos a perspectiva de uma personagem que tínhamos criado e desta vez quisemos mostrar as riquezas artísticas do Eduardo - não só em termos de composição, mas em termos até de escrita - e sentimos que ia ao encontro do carácter da música que estamos a praticar.

José Manuel Marques

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