Press - Interviews
15th May 2003
Interview for Suka Newsletter #3

Click for a larger viewAs cores de Outono são muitas vezes conotadas com a calma das emoções e com as vertentes próprias da introspecção. Muitas vezes somos arrastados para um manto de pensamentos por onde sabemos que podemos deambular, mas que para isso aconteça, definimos a imposição de um estímulo. "Which colour has the autumn wind that stains my body with it's touch?". Deixem-se seguir pelo estímulo das palavras e a música de ThanatoSchizO, as suas cores podem muito bem ser outonais , mas os espíritos que as transformam nas telas que são os seus temas não se importam muito com isso. Apenas com a beleza e com a arte. Ouçam então esses espíritos nas palavras de Eduardo Paulo (voz/guitarra) e Patrícia Rodrigues (voz), já a seguir...

1) Qual é o estado de espírito presente dos ThanatoSchizO agora, com o lançamento do álbum "InsomniousNightLift"?
Eduardo:
Agora, os ThanatoSchizO sentem-se ainda mais maduros e mais confiantes face à importância que a música assume na vida de cada um dos seus elementos. Ao mesmo tempo que o estado de espírito é ainda de alguma euforia, se bem que controlada, sentimo-nos a caminhar, conscientes e estimulados, rumo ao que desejamos. Em suma, se preferires, estamos muito satisfeitos com o que planeamos e com o que alcançámos com o nosso empenho no álbum. O optimismo reina, aliado a outros sentimentos que contribuem continuamente para o desenvolvimento do que, a longo, médio ou/ e curto prazo queremos que seja possível.

2) Em Janeiro, a Rage of Achilles vai proceder ao seu lançamento e distribuição a nível mundial. Que tipo de cenários possíveis esperam encontrar com esta situação?
Eduardo:
Esperamos e achamos que seja mesmo muito possível, além do previsto no contrato, de chegar aos pontos do globo anteriormente inalcansáveis e com um pouco mais de respeito, abranger o maior e mais variado tipo de público com um entusiasmo merecedor... Digo isto sem o mínimo de presunção, principalmente porque conhecemos e já tivemos conhecimento de pessoas que pouco gostavam de pessoal vestido de preto e cenas obscuras e pesadas de qualquer tipo e gostaram imenso do álbum. Não penso que tenha sido "graxa", porque nada podemos oferecer-lhes em troca além da nossa música (eh, eh!)! O que se pretende nem sempre é exactamente o que se tem, mas sinceramente espero que o álbum possa ser eleito por quem realmente percebe alguma coisa de música e principalmente se entregue a ela de corpo e alma. Como um estilo de vida que nós temos também! Esperamos encontrar tudo o mais que nem sempre nos foi proporcionado cá, em Portugal e que infelizmente teima em ser-nos negado. No entanto, a confiança devota por parte da Rage of Achilles inspira-nos para situações muito agradáveis. Para além de que tocar no estrangeiro deixa de ser um sonho tão distante!

3) Uma vez que em território nacional o álbum é lançado pela Misdeed Records, vocês estão agora a trabalhar com duas editoras diferentes. O facto de estarem ligados a essas duas editoras não acarreta choques de interesses?
Patrícia:
Não, de modo nenhum! Cada uma das editoras tem a sua forma de trabalhar, mas nenhuma delas entra em conflito, porque existe acordo entre ambas... e isso ajuda a que a "máquina" funcione ainda melhor.

4) De que forma surgiu o vosso relacionamento com a Rage of Achilles?
Patrícia:
De uma forma perfeitamente natural: eles leram umas entrevistas e "reviews" nossas, ficaram muito interessados, contactaram-nos e a partir daí começaram as negociações.

5) Para além do amadurecimento pessoal de cada elemento da banda, que grandes diferenças apontam entre "InsomniousNightLift" e os vossos anteriores lançamentos?
Patrícia:
"InsomniousNightLift" é uma evolução natural de ThanatoSchizO. Desde que a banda iniciou o seu percurso (e apesar de eu ter sido apenas um elemento convidado no início, segui sempre atentamente a sua evolução), teve em mente criar um dia um álbum como "InsomniousNightLift". Esta é uma obra que tanto se pauta pela diferença a nível conceptual como a nível instrumental. A nível conceptual, a personagem que sempre povoou o ideário da banda (Suturn) foi posta um pouco de parte, sendo substituída por uma abordagem mais intimista, introspectiva e pessoal da vida. Resolvemos deixar de lado a máscara de uma personagem que encobria os nossos pensamentos e sentimentos, optando por nos mostrarmos tal como somos. A nível instrumental, como é fácil verificar após a audição dos anteriores lançamentos ("Melégnia" e "Schizo Level" - pautados de uma diversidade musical impressionante nas palavras de muitos e que dificultava a inclusão da banda num só género musical), "InsomniousNightLift" é um álbum mais na esteira do "progressive doom/ death", sendo assim mais facilmente catalogado. Isto não quer dizer que a banda se tenha tornado menos estranha (muito pelo contrário), significa sim que ThanatoSchizO criou finalmente a obra que sempre desejou e para a qual trabalhou. É um álbum que satisfaz por inteiro cada um dos elementos da banda e nos produz um sentimento de orgulho.

6) "Sublime Loss", confesso ser o meu tema preferido deste álbum. As palavras escritas pela Patrícia são bastante interessantes. Existe algum tema deste "InsomniousNightLift" pelo qual nutram um carinho maior?
Patrícia:
Todos os temas deste álbum despertam em mim algo de bastante profundo de cada vez que os ouço, uma vez que como elemento de ThanatoSchizO assisti ao seu desenvolvimento desde a sua concepção até à gravação em estúdio e isso torna cada tema bastante especial. Porém, para então destacar dois temas, devo admitir que "Sublime Loss" e "A Promenade Portrait" são aquelas que mais me despertam os sentidos. A primeira por ser tão intensa nas palavras e tão complexamente simples na sua composição; a segunda por reunir uma série de ambientes conceptuais que abarcam por completo a imaginação do ouvinte.

7) Existe alguma forma simples de explicar o vosso universo lírico? As vossas letras continuam a ser "adaptações metaforizadas da vossa vida real"?
Eduardo:
Completamente! Extractos de todo um intenso dia a dia tempestuoso, irónico, onírico, melancólico, enérgico, momentaneamente depressivo, mas que é também uma tão grande forma de terapia de libertação! São adaptações ousadas de muitos dos sentimentos que vivemos e que geralmente tendem a sufocar-nos. Todos estes capítulos remontam já a algum tempo atrás, pelo que foram previamente tratados, sem perderem um pouco que fosse da sua essência, pois são autênticos e haviam sido escritos instantaneamente. Ou seja foi-lhes polida a alma. É por aí...

8) Neste "InsomniousNightLift" podemos encontrar o universo musical/lírico dos ThanatoSchizO no seu melhor? Ou é mais uma etapa na constante superação criativa, de registo para registo?
Eduardo:
Obviamente que sim! Temos consciência de que este é o nosso melhor trabalho e que é nele que reside toda a evolução quer individual quer colectiva. É o disco onde aliamos de uma forma lógica e solene a violência com o peso dos ritmos mais lentos e melancólicos. Onde a beleza do instrumental se funde com a intensidade também bela das letras. Onde se dão vozes, tão sentidas como todo resto do envolvimento musical e lírico, à ambiência que reinou o nosso espírito e continua marcado na nossa História. Contudo não poderemos cair no erro de criar constantemente a mesma coisa. Não será nunca nossa intenção fazer o mesmo futuramente, assim como já agora não fazemos. Não é a nossa maneira de fazer as coisas. Certo será que no geral temos tendência a encontrarmo-nos cada vez mais perto de como queremos ser e criar a nossa música de acordo com tal. Porém, temo por vezes que esta filosofia seja demasiado ilusória e que sejamos tentados a ser... como somos. Imprevisíveis! Se não chegarmos agora, chegaremos amanhã. Descanso não é a palavra de ordem. E como somos nós os donos do nosso destino, assim será!

9) Os ThanatoSchizO defendem uma grande liberdade a nível musical. De que forma é que essa expansão de fronteiras é controlada na altura de compor os temas?
Eduardo:
No fundo não creio alguma vez ter encarado essas fronteiras que pensas existirem. De todas as vezes que algo é criado, tudo acaba por soar a nós mesmos e não só a ThanatoSchizO. É uma experiência espectacular cada vez que uma música nova nasce! Tudo é criado com o amor ao sabor do espírito.

10) Existem grandes diferenças na interpretação dos temas quando os ThanatoSchizO tocam ao vivo?
Eduardo:
Certamente serão um pouco mais rápidas e frenéticas como os bons espectáculos ao vivo deveriam proporcionar sempre. No entanto, nem sempre as condições favorecem as bandas e isso implica em muito a prestação das mesmas. Também é saudável uma banda improvisar um pouco, para não se tornar monótono. Nós também gostamos disso; acaba por ser interessante para ambas as partes: banda e público.

11) Que tipo de experiências tentam oferecer e conseguir durante um concerto?
Eduardo:
O objectivo principal, independentemente das condições à disposição da banda, é tocar o melhor possível, isto é, de acordo com o espírito que as músicas suportam. Como se o corpo não fosse mais do que um instrumento da alma e da vontade de libertação para que se gere um ambiente mágico, envolvente, profissional e intenso. De modo a que o mais céptico espectador se deixe absorver pelo todo do espectáculo. Como já tinha referido acima, o improviso é sempre algo com que se pode contar nos nossos concertos, sem cairmos no erro do exagero. Somos bastante moderados no que toca ao secante. É algo que funciona sempre e, como já nos conhecemos tão bem musicalmente, o suposto instinto para o sincronismo é natural e um óptimo desafio, uma vez que raramente investimos no mesmo tempo ou ritmo. Quanto à estética, é algo que, moderadamente e dentro do contexto, tentamos melhorar a cada concerto. Claro, com a garantia de ser agradável e ao mesmo tempo "psico", nomeadamente na performance. Os temas sofrem, além da experiência do improviso, uma maior rapidez e diria também que talvez uma maior agressividade, resultando tudo numa viagem espiritual profundamente expressiva. Dar uma experiência nova a cada um de nós e do público é uma das maiores preocupações!

12) Por onde acham que deve passar o caminho de uma banda para que possa escapar às restrições habituais de um estilo como o metal? Qual é o vosso conselho?
Eduardo:
Isso depende de o que realmente as bandas pretendem para o seu som. Se uma banda pretende escapar às restrições do metal, que a meu ver cada vez existem menos, é ser única e exclusivamente fiel ao seu instinto. Há que dar liberdade, essencialmente à sensibilidade mais oculta, ao dito bom gosto, pois geralmente as pessoas tendem a negar quase automaticamente certas cenas. Ao contrário de o que muita gente pensa nos dias que correm, já quase ninguém ouve apenas um estilo musical, mesmo que este seja só cenas pesadas. Cada vez mais se ouvem diferentes estilos musicais e isso é um dos melhores caminhos para que o que se crie não esteja restringido a este ou àquele estilo, porque obviamente e por mais que se negue, isto é mesmo assim: as pessoas são influenciadas a todos os níveis. Não há nada como ter uma mente aberta. E não só as cenas de maior qualidade ou mais geniais a nível de composição são importantes. Há muita música desconhecida até um determinado momento que poderá e irá certamente revolucionar o nosso conceito de estilo, genialidade, etc.

13) O facto de haver um sucesso relativamente pequeno das bandas portuguesas é sinónimo de que o público português sofre do "síndroma dos pequeninos"? Quer dizer, o produto nacional nunca é tão bom quanto o que vem do estrangeiro?
Patrícia:
Bem, o que se passa com o público português é o facto de este ser um pouco analfabeto em termos musicais, uma vez que aceita tudo o que lhe é dado a ouvir. Isto é, não tem discernimento para escolher entre o que tem qualidade e o que não tem. Deste modo, se na imprensa nacional uma banda sem qualidade for considerada boa, o público português aceita sem questionamentos. Isto é muito mau e por vezes cria uma ideia generalizada e errada acerca de certas bandas sem qualidade nenhuma. Isto também tem a parte inversa: muitas bandas com qualidade são injustamente julgadas pela imprensa como tendo pouca qualidade e são tremendamente crucificadas pelo público que se deixa ludibriar. O que eu aconselho vivamente, é que as pessoas deixem de ter véus à frente dos olhos e não se deixem enganar.

14) O que é que falta à cena metal nacional para que ela se possa tornar melhor?
Patrícia:
Acima de tudo, deixar de haver lobbies e falsos julgamentos! Também acrescento que se o próprio público apoiar mais o que é nacional, talvez deixemos de ser um povo tão pequenino em termos musicais a nível internacional e as coisas evoluam. As pessoas têm de começar a ser mais "open-minded"!

15) Agradeço imenso o tempo despendido na resposta a este pequeno inquérito. Como sempre, a última palavra pertence aos ThanatoSchizO...
Eduardo:
Uma noite em claro para todos vós... ao viverem "InsomniousNightLift".
Patrícia: A vida é um livro cheio de páginas por escrever que anseiam ser percorridas pela tinta das experiências. Por vezes é difícil falar delas e admitir que acontecem. "InsomniousNightLift" tem algumas das páginas das nossas vidas e certamente muitas pessoas se irão identificar com as palavras e a música que nele constam. Deixem-se conduzir pela nossa mão e embarquem nesta viagem pel

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