Press - Interviews
05th November 2004
Interview for Loud! Magazine #46

Click for a larger viewThanatoSchizO
INTERIOR TURBULÊNCIA

«Turbulence» é o novo capítulo na já respeitável carreira dos ThanatoSchizO. Amadurecendo de registo para registo, no novo trabalho o colectivo consegue aglutinar quase na perfeição as suas diversas e aparentemente divergentes influências. Cada vez mais incisiva, a sonoridade do grupo ultrapassa convenções e estereótipos, tal como a filosofia que lhe serve de base. A LOUD! conversou com o guitarrista Guilhermino Martins que nos revelou os motivos desta turbulência.

Qual a evolução que sentes de «InsomniousNightLift» para este disco?
Penso que é uma progressão quase óbvia em relação ao álbum anterior. No fundo pegamos nos aspectos que nos soaram melhor e aprimorámo-los para que o nosso material, principalmente ao vivo, soasse mais poderoso. No fundo pretendíamos que aquela delicadeza presente no registo anterior se mantivesse, mas queríamos dar uma conotação mais pesada e mais dinâmica para que, especialmente ao vivo, as coisas funcionassem melhor.

Mais uma vez trabalharam com o Luís Barros como produtor. Nunca pensaram ter outras experiências ou experimentar outros estúdios?
Sim, já pensámos nisso. No entanto, partimos da convicção de que, para as limitações do mercado que temos, o Rec’n’Roll continua a ser a melhor forma de gravarmos o álbum que queremos e com uma produção que – desta vez – resultou magnífica. É óbvio que nos passa pela cabeça gravarmos no estrangeiro, mas queremos ter os pés bem assentes no chão e não dar um passo maior do que as pernas.

O Eduardo teve um papel ainda mais fundamental na composição destes novos temas. De onde vem tanta criatividade de um vocalista?
Em termos criativos o Eduardo surpreende-me muito. Posso dizer que esta semana tem vindo aqui todos os dias para gravar riffs novos e está sempre a compor. O facto de não ter um conhecimento musical técnico – ele não conhece as notas apenas segue o feeling que os acordes lhe dão – dá-lhe uma amplitude musical bastante alargada. Algo que eu já não consigo porque fico sempre colado à parte técnica da música. Ao longo dos tempos ele surpreendia-me com riffs que gravava em minha casa e, no fundo, o nosso papel foi tornar as coisas mais estruturadas e lógicas, dar coerência aos riffs dele. O Eduardo é uma pessoa muito importante porque, para além de compor e escrever as letras, agora também toca guitarra ao vivo. Isso dá-me muita margem de manobra pois ao vivo posso-me dedicar mais aos solos, algo que não podia fazer até aqui.

Estás satisfeito com o resultado do disco?
Já gravámos há meio ano e continuo a estar 100% satisfeito. É lógico que, com o passar do tempo, a minha opinião vai mudar porque, sendo humano, tenho tendência a evoluir e a pensar que as coisas poderiam ficar melhores. Existirá um quarto álbum e nesse poderemos corrigir algo que, na altura, pensemos que esteve menos bem neste disco. Cada tema novo que fazemos é um passo em frente em termos de composição em relação ao tema anterior.

Sendo um dos colectivos mais originais do metal nacional como explicas que a vossa sonoridade não seja compreendida por muitas pessoas?
Tal como não é compreendida por muitas pessoas existem outras tantas que a compreendem. Penso que, provavelmente, a nossa originalidade está mais na atitude do que na própria música. Esta é uma opinião muito pessoal e não sei até que ponto o resto da banda partilha dela. Aos poucos fomos conseguindo afirmar-nos no panorama nacional, no início as pessoas pensavam que éramos mais um grupo que iria durar dois ou três anos e que terminaria sem editar um disco. Mesmo quando gravámos o primeiro álbum algumas pessoas continuavam a olharnos de lado. A grande maioria delas só começou a reconhecer-nos algum valor quando lançámos o «InsomniousNightLift». Por esta altura, e até pelo feedback que tenho das pessoas que ouviram o novo disco, as reacções têm sido as mais surpreendentes de sempre. Todos gabam não só a produção mas o facto de, para elas, a nossa música cada vez fazer mais sentido. Isso tem a ver com a nossa maturidade em termos de composição e com estes seis anos de bagagem acumulada.

Referiste que a vossa originalidade é mais na atitude do que na própria música. Li numa entrevista tua onde referias que os ThanatoSchizO tinham uma atitude de contra-cultura. Porquê?
Apesar de nos inserirmos no movimento do metal nacional e do metal ser a música que fazemos e com a qual nos identificamos totalmente, há uma série de clichés em todos os estilos de metal com os quais não nos identificamos de forma alguma. E provavelmente por não sermos hipócritas não nos recusamos a comentar sempre que somos abordados sobre determinados assuntos, é por isso que – provavelmente – surgem certas polémicas. No fundo acabamos por ser sinceros connosco próprios e com as pessoas porque seria muito mais fácil recusarmo-nos a comentar certas coisas, passar ao lado de certas atitudes, mesmo de muitas pessoas que gostam do nosso som. Isto deve ser por sermos transmontanos e, já muitas pessoas me disseram, muito transparentes. Esta personalidade poderá ajudar a criar algumas inimizades.

Mas não tens medo que esta atitude tão vincada de contra-cultura se torne, ela própria uma cultura? Por parte dos vossos fãs e não só...
Não, não tenho. Não temos absolutamente nada contra o que quer que seja no metal. Tirando provavelmente algumas necessidades de ligações políticas que algumas bandas apresentam, mas essas são outras estórias. Mas não nos peçam para nos identificarmos com tudo o que gira à volta do metal, porque isso nós não fazemos. Há muita coisa – especialmente os clichés de vários estilos – que não conseguimos aguentar. Em relação à tua questão reconheço isso. Qual é a melhor forma que temos de nos sentir bem se não ter ao nosso lado pessoas que partilhem as mesmas ideias que nós? E é, no fundo, o que acabamos por fazer.

Como defines o som dos ThanatoSchizO?
Sempre fui adverso a compartimentações. Já fomos comparados a imensas coisas que nos deram vontade de rir... como, por exemplo, Cradle of Filth. São uma banda de que nem sequer gostamos e com a qual não nos identificamos. No entanto, acredito que para a pessoa que esteja a fazer a crítica ao disco seja difícil tentar imaginar o estilo ou algumas bandas com as quais sejamos minimamente parecidos. O nosso som está entre o death e o doom metal progressivo, com uma pitada de música étnica pelo meio.

Carlos Gu

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