Press - Interviews
17th December 2005
Interview for Ghost Reveries Blog

Ghost Reverie: Há quanto tempo é q vocês se juntaram e existem como banda?
Guilhermino:
Os Thanatos surgiram há precisamente 8 anos. Previamente, eu, o Paulo e o Eduardo (na altura, apenas numa primeira fase) estivemos envolvidos numa banda de versões entre fins de 95 e 97, basicamente para aprendermos a dominar os instrumentos e ganharmos alguma experiência ao vivo.

Nessa altura ainda eram conhecidos como Thanatos. O que vos levou a adicionar o sufixo "schizo"?
Sim, começámos por nos chamar Thanatos. Adicionámos o sufixo "Schizo" aquando da renovação de line up que a banda sofreu em meados de 2000. Além de nos termos apercebido que existiam cerca de 8 bandas em todo o mundo com o nome Thanatos, queríamos conotar a nossa designação com algo que demonstrasse a nossa apetência para fazer coisas fora do comum, diferentes e estranhas. Assim surgiu o nome ThanatoSchizO que funde a tese freudiana de que o ser humano vive em permanente tentação em relação ao abismo, ao seu lado mais obscuro - em suma: à morte -, com a esquizofrenia latente.

Como defines o estilo dos TSO, para além de fora do comum? Hoje em dia os jornalistas inventam centenas de designações e começa a ser dificil integrar as bandas num estilo próprio.
Sim, cada vez há mais rótulos, alguns deles simplesmente ridículos. Mas a indústria precisa de sobreviver e dando nomes diferentes para coisas iguais (ou já existentes) arranja assim uma forma de se renovar. É por isso que quando sou questionado sobre o nosso estilo, a forma mais simplista que encontro é Prog. Death Metal ou Prog Death-Doom Metal.Um híbrido de vários estilos de música, correntes de pensamento, formas comportamentais. A mistura de 6 pessoas com diferentes influências, no fundo.

A impressão que eu tenho é que vocês são todos muito unidos. É mesmo assim, não têm problemas internos, a nivel ideológico por exemplo? Ou são como os metallica que quando damos conta está cada um para seu lado?
Somos, de facto, muito unidos. É óbivo que, ao longo de 8 anos, há sempre conflitos pontuais, quanto mais não seja os que resultam da convivência intensiva de 6 pessoas durante um longo período de tempo. Mas nada que não seja resolvido na devida altura...ainda não precisamos de psicólogos na gestão desses mini-conflitos. Em relação ao nível ideológico, cada um tem as suas ideias mas a banda tem uma só voz: a colectiva. Ou seja, quando as decisões são tomadas no seio do grupo são-no, efectivamente, pelas 6 pessoas e nunca nada é decidido sem que toda a gente tenha uma palavra a dizer. Talvez por isso, nos matenhamos unidos e "frescos" em termos de atitude.

E hoje em dia o que faltam são bandas estáveis com um trabalho pontual e de qualidade. Consideras que são uma banda underground?
Foi sempre um termo dúbio para nós e ainda hoje é algo que nos confunde. Somos uma banda que não tem propriamente uma série de interesses empresariais corporativistas a apadrinhar, influenciar e favorecer a sua acção. Mas também é verdade que nunca nos identificámos com os típicos clichés do movimento underground. Talvez sejamos uma ilha dentro do underground por termos criado uma contra-cultura própria, uma forma de estar invulgar e recusarmos uma série de limitações inerentes a esse conceito que nos parecem algo infantis. Naturalmente, não temos uma estrutura milionária a suportar-nos, logo nunca poderíamos ser uma banda mainstream. E, sinceramente, nem é isso que procuramos como músicos...até porque seria meio caminho andado para vermos a nossa arte limitada pela obrigação de cativar esta ou aquela franja de público.

Pois. E infelizmente hoje em dia o que se vê mais são bandas que tentam vender e não ligam propriamente àquilo que querem e gostam de fazer. Foi muito difícil arranjarem um contrato com uma editora?
Desde cedo estabelecemos objectivos nesta banda. O primeiro era, além de tocar frequentemente ao vivo - por forma a ganhar calo - arranjar uma editora interessada no nosso trabalho. Com esse objectivo, começámos por investir os fundos acumulados por 2 anos de concertos na gravação de um EP (Melégnia, 1999), auto-financiado. Este registo abriu-nos as portas editorais e conduziu à assinatura de um contrato com a Misdeed Records em território nacional.E assim surgiu o nosso primeiro álbum - Schizo Level, 2001. As excelentes reviews que o cd obteve chamaram a atenção da editora britânica Rage of Achilles que editou o segundo álbum - InsomniousNightLift, 2002. Já a edição internacional de Turbulence (3º álbum, 2004) está a cargo da Australiana Pandemonium Records. Em resumo: não foi difícil encontrar uma editora interessada. Bastou aplicarmo-nos ao máximo no principal: a música e, a partir daí as coisas foram-se sucedendo.

Acabaste por responder a outra pergunta...Vocês estão a caminho da internacionalização. Achas que se verifica cada vez mais uma adesão do público ao metal? E que cada vez mais aparecem bandas desse género? (falando de Portugal)
Há, de facto, público para os projectos que se apresentem válidos, frescos e com qualidade. Depois de uma fase algo medíocre, vivem-se tempos saudáveis em termos criativos e têm nascido nos últimos tempos vários grupos que vêm enriquecer este meio. A internet veio democratizar o panorama e hoje dificilmente alguém se poderá queixar de falta de meios para conhecer esta ou aquela banda. Por outro lado noto o público - ou pelos menos aquele que nos é mais próximo - cada vez mais predisposto a trilhar novos caminhos. E isso agrada-me, particularmente, porque nunca me revi naquele velho chavão "só podes ouvir metal porque o resto é untrve".

Então és defensor de que a net é uma ferramenta de divulgação válida?
Naturalmente! Depois caberá a cada um decidir comprar os registos das bandas. No meu caso, quando sou confrontado com uma banda até aí desconhecida por mim e/ou com um álbum a que tive acesso via internet e que me agrade, acabo por o adquirir. É lógico que, infelizmente nem toda a gente é assim. Mas eu quero acreditar que a maior parte das pessoas procede como eu.

Vocês têm uma boa relação com a editora?
Com a Misdeed - editora em território nacional - temos uma relação muito próxima: já nos podemos apelidar mutuamente de amigos, pois são 5 anos de cooperação. Em relação à editora Australiana, as coisas ainda estão muito no início e depois da mini-desilusão que foi o fim abrupto da Rage of Achilles, estamos, assumidamente, na defensiva. Mas até agora tem tudo corrido da melhor maneira.

Se vocês tivessem oportunidade de assinar com uma grande editora como reagiam? Achas que era um bom passo?
Estudaríamos a proposta com o máximo rigor. A experiência no meio diz-nos que, por exemplo, não adianta a uma banda estar numa grande editora como a Nuclear Blast se for a sua 50ª prioridade. O ideal e o segredo de uma carreira bem gerida passa por a banda - nas diversas fases da sua carreira - estar em editoras ao nível da sua projecção e onde seja uma prioridade assumida.

Achas que assinar por uma grande editora pode ser motivo para apelidar uma banda de vendidos? Aconteceu isso mesmo com os Opeth ao assinar com a RoadRunner se te recordas...
Acho isso simplesmente ridículo! São esses clichés que eu não suporto neste meio.

Que achas do actual panorama musical português? Como músico e como ouvinte?
Está num pico de qualidade. A prova disso são os diversos e excelentes lançamentos com que fomos brindados em 2005. Há cada vez mais bandas com qualidade, só é pena não se apostar na criação de um rótulo que tornasse possível uma exportação "em bloco" de todo o potencial português. Falo de algo como "New Wave of Portuguese Death Metal" que não é tão descabido quanto isso e que permitiria um desenvolvimento tremendo neste meio, tal como aconteceu nas cenas Sueca e Norueguesa nos anos 90.

Infelizmente cá apenas se aposta em musica que venda.Concordas? Dzr't, Ágatas, Marcos Paulos há aos pontapés...Mas não vemos TSOs tds os dias.
De certa forma, ainda bem. Assim fomentas o culto, tornas as coisas mais apetecíveis e a imagem da banda não se satura. Música sem qualidade haverá sempre, cabe-nos a nós filtrá-la, é simples!

Mesmo assim, era bom se fosse tão fácil para vocês chegarem ao grande publico como essa musica sem qualidade.
Isso é utópico! Cada vez mais a generalidade das pessoas procura coisas directas, seja na música, seja em qualquer actividade do seu dia-a-dia. Infelizmente, a tendência é para acentuar esse comodismo, portanto, não nos consigo imaginar como uma banda mainstream a tocar para o mesmo público de, por exemplo, uns Xutos e Pontapés

Estão habituados a ter públicos limitados, de 40 ou 50 pessoas? Ou seja, poucos mas bons?
Nos últimos anos a média nos nossos concertos tem estado na cifra das 400 pessoas. O tempo das 40/50 pessoas já lá vai, na fase do EP em que tocámos em todas as "tascas" de Portugal. Mas sim, prefiro 400 pessoas que estejam por nós a 4000 que não tenham capacidade para perceber a nossa música, mensagem ou estilo de vida.

Sei que vocês já têm novo álbum na calha. Que podes dizer sobre ele até agora?
Estamos neste momento em processo de composição do próximo álbum no "schizo rehearsal room" - a nossa toca! Ainda não temos uma ideia definida do que e como será o próximo álbum mas, seguramente, quem já nos conhece, saberá que não nos iremos repetir. Contamos iniciar as suas gravações dento de um ano, por forma a que seja editado em meados de 2007. Até entrarmos em estúdio, vamos fazendo algumas pré-produções dos temas nos nossos Blind & Lost Studios para aprimorarmos a estruturação das músicas.

Sucessor lógico ou mais uma evolução como se verificou do Insomnious Night Lift para o Turbulence?
Consegues visualizar algum dos nossos álbuns como sucessor lógico do anterior? Em todos evoluímos, em todos surpreendemos - perdoa-me o pragmatismo - e o próximo não será excepção. Aliás, essa é, neste momento, a única coisa certa em relação ao sucessor de Turbulence.

Existe algum mentor na banda? Ou vocês coexistem, todos tomam decisões, todos participam do processo criativo?
Não. Somos uma completa e perfeita democracia. Pode haver quem, num momento ou outro, dê a cara em nome da banda mas não há nem líderes, nem mentores.

Por isso é que estão aí há muito tempo, com muito para dar ainda espero eu!
Obrigado! E sim, esse é o objectivo! Enquanto for motivante ensaiar, criar música, tocar ao vivo...

Em que se baseiam ou inspiram para escrever e compor?
Na nossa vivência: a nossa experiência de vida. É essa a fonte de inspiração!

E a nível musical, cada um ouve uma coisa diferente ou os gostos são muito idênticos?
Somos todos muito abrangentes e é difícil, numa mesma fase, estarmos a ouvir todos o mesmo. Podes verificar isso nas playlists que editamos na secção members do nosso site.

É bom haver diversidade musical. pode-se sempre esperar algo inesperado num trabalho vosso de certa maneira, com influências daqui e dali...
Exacto, até porque quantas mais cores conheceres e dominares, maior tendência vais ter para enriquecer o teu "quadro".

Quando se fala em musicos, a vida de glamour, estrelato e dinheiro fácil vem à cabeça de qualquer um. Achas que a vida de músico dá para pagar as contas?
Em Portugal claro que não. Mas isso dá-te uma liberdade para encarares a arte de criar música sem teres limitações e preocupações com o rendimento que daí advém. O ideal é teres a capacidade para conseguir conciliar tudo. No meu caso, sou professor de música e tenho uma certa liberdade em termos de horários.

Ia-te perguntar se mantinhas alguma actividade, mas não preciso porque já te adiantaste. Já agora és professor de musica onde? Os teus alunos não se metem contigo? Não fazem comentários do tipo: "Ihh, este gajo tem cá um aspecto..."
Sou professor particular. Criei a minha própria escola e tenho, neste momento, 26 alunos + 6 bandas a ensaiar na escola/sala de ensaios. E não, não se metem comigo até porque, de alguma forma, há uma identificação mútua entre nós.

Tu que estás dentro do mundo musical, bandas como Cannibal Corpse e Holocausto Cannibal, existem só para o show off ou seguem mesmo cultos canibalescos?
Claro que são show off! Temos uma relação relativamente próxima com Holocausto Canibal, já demos uns 20 concertos juntos ao longo destes anos e, naturalmente, isso faz tudo parte do "band acting". Até te posso dizer, de fonte segura, que alguns dos elementos de Cannibal Corpse são, efectivamente, vegetarianos!

Alguma cena caricata ao longo da tua carreira que queiras contar?
São tantas que...talvez tenhas razão: tenho mesmo de escrever um livro. Dez anos neste meio já nos conduziram a situações verdadeiramente insólitas. Desde a origem do nome do nosso EP Melégnia, até às sessões de gravação do Joca - convidado no Schizo Level -, há inúmeras histórias dignas de risadas.

Vocês já estiveram em algum festival de renome nacional?
No imediato lembro-me do Festival de Barroselas e dos Alta - Tensão.

E registos ao vivo oficiais?
Algo a pensar depois do próximo álbum.

Obrigado por tudo. E se quiseres agradecer a alguém....
Agradeço-te por esta entrevista, pelo apoio e pelo interesse em ThanatoSchizO.

Ghost

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