Press - Interviews
04th June 2008
Interview for Arte Sonora

Zoom ao extremo de Portugal

Click for a larger viewClick for a larger viewClick for a larger viewOs ThanatoSchizO são sem dúvida uma banda intrigante no panorama do metal português, porque sempre conseguiram desenvolver-se sem abdicar dos princípios presentes na génese do projecto. E cada um dos seus trabalhos foi sempre reflexo da disciplina de trabalho que pauta a banda, numa relação de gerênciadas individualidades que dela fazem parte sob a tutela do guitarrista Guilhermino Martins. As influências do guitarrista são também reflectidas no trabalho que os ThanatoSchizO mostram, mais que guitarristas da cena do shredd, o músico é um adepto de nomes como Tony Iommi ou Jim Martin, cuja execução foi sempre mais pensada para dar força e coesão aos temas que compõe que o destilar de capacidade técnica. Ainda assim, a banda nunca abdicou de princípios estéticosextravagantes o que, de facto, lhe dá identidade específica. A maturidade e consequente coesão dos ThanatoSchizO atinge no seu último trabalho umpico evidente e contudo seguindo a carreira dos transmontanos pode esperar-se confiantemente que não é previsível ficarem-se pelo nível agora demonstrado. A Arte Sonora esteve precisamente em diálogo com o Guilhermino Martins, para descobrir mais sobre a intimidade da banda.

Podíamos começar pelo percurso de ThanatoSchizO (TSO) e de como a banda chegou a este “Zoom Code”.
Os TSO são uma banda de Sta Marta de Penaguião, no distrito de Vila Real, que começaram há exactamente dez anos. Começámos por lançar uma demo auto-intitulada, depois gravámos um EP (Melégnia) em 1999, auto-financiado, que nos levou à assinatura do primeiro contrato discográfico para lançarmoso primeiro álbum, que é o “Schizo Level”, de 2001. Entretanto, o álbum teve algumas reviews bastante positivas e a editora inglesa Rage Of Achilles demonstrou interesse em nós, assinou connosco e editou o nosso segundo álbum, “InsomniousNighLift”, em 2003. Contudo a Rage Of Achilles deixou de existir, nós ficámos um bocado desamparados, acabámos por assinar com uma editora australiana para a edição do “Turbulence”, o nosso terceiro álbum, demos uma série de concertos de promoção e depois a partir de 2006 fechámonos na sala de ensaios e começámos a conceber o novo álbum. O ano de 2007, todo não, mas pelo menos diria que quase metade do ano, foi passado em estúdio entre pré-produção, gravação e misturas do “Zoom Code” e no início deste ano foi editado o álbum.

Vocês em quatro anos mostram muito trabalho, sempre tive essa sensação, ouvimos cada álbum e não temos a sensação de estar a ouvir palha, que as coisas fazem sentido. Como é que esse trabalho consegue dar tanto fruto, como é o vosso processo de composição, como surge essa actividade e criatividade?
Basicamente, eu atribuo isso a uma série de factores. Um deles, muito curioso, é o facto de vivermos numa zona isolada onde não há grandes pontos de entretenimento, ou seja, quando estamos aqui, reunidos para ensaiar, não temos outra alternativa do que realmente ensaiar porque não há muito mais a fazer. Nós, desde o início, principalmente a partir da fase do Schizo Level, do primeiro álbum, impusemos a nós próprios que tínhamos de tentar dedicarmo-nos ao máximo à banda e impusemos um horário rígido que implica vários ensaios, várias horas de ensaio, e temos sempre um plano bastante antecipado daquilo que vamos fazer durante os próximos meses em termos de ensaios, marcação de concertos. E, basicamente, é isso que tem acontecido nos últimos anos, nós definimos que vamos passar x meses a ensaiar e que temos de criar x músicas, o que não implica que essas músicas sejam criadas. A título de exemplo, posso dizer-te que as primeiras seis músicas que compusemos para o Zoom Code foram autenticamente deitadas ao lixo, porque nós sentimos que não estavam no ponto, mas eu acho que tem mesmo a ver com essa dedicação que nos auto-impusemos em relação à banda.

O “Zoom Code” soa-me como o vosso trabalho mais directo, sem deixar de manter as componentes excêntricas que costumam apresentar. Perguntava-te sobre o conceito condutor do álbum.
Ao contrário dos álbuns anteriores, ou melhor, na sequência do “Turbulence”, nós tentámos ainda mais aprimorar o conceito de canção no fundo, e ao invés de nos dedicarmos tanto àquelas nossas excentricidades típicas, começámos a preocupar-nos realmente em explorar mais a estrutura dos temas, a forma como os riffs se sucediam uns aos outros, a forma como seria possível compor de modo a que diferentes riffs, depois no fim do tema, se sobrepusessem uns aos outros e começámos a dar, realmente, cada vez mais atenção a isso em detrimento do tal lado mais excêntrico, que continua presente, continuamos a usar instrumentos atípicos neste estilo de música, mas o conceito do “Zoom Code” foi percebermos o que era aquilo que nós queríamos, aquilo que conseguiríamos fazer melhor, daí o conceito de zoom, do aprofundamento daquilo que nós queríamos e sabíamos fazer melhor.

E a temática lírica? Os outros álbuns apresentam sempre conceitos condutores, mesmo que não sejam exactamente conceptuais. Como foi neste?
Enquanto nos álbuns anteriores as letras eram reflexos da vida pessoal dos dois letristas, a Patrícia e o Eduardo que são também os vocalistas, desta vez tudo nas letras gira à volta de histórias contadas sobre outras pessoas ou personagens exteriores. Outra marca de diferença é que neste a mensagem é muitos mais clara, num sentido de claridade, há muito mais luz, muito mais esperança por oposição àquele lado mais deprimente ou melancólico que havia nas letras até aqui.

Fala-me da vossa aposta permanente nos Rec ‘N’ Roll e a intimidade que vocês conseguiram criar com o estúdio, que se nota dos trabalhos.
Nós trabalhamos com o Luís Barros desde o primeiro EP, que começámos a gravar em finais de 98, portanto além duma relação de amizade óbvia, é uma daquelas pessoas em quem nós podemos confiar a 100% e sentimos que da mesma forma que esta banda evoluiu ao longo de dez anos, os próprios estúdios se foram modernizando e aperfeiçoando uma série de aspectos técnicos e, claro, o próprio Luís Barros também evoluiu, como qualquer um de nós, como produtor. No fundo, eu acho que isso se percebe perfeitamente no nosso álbum. O conceito desta banda em termos de sonoplastia tem muito a ver com o lado orgânico da música, apesar de nós usarmos alguma electrónica e as tais excentricidades, mas o som de bateria e de guitarra tem que ser o mais orgânico possível, porque é isso que nós queremos sacar e ali nos Rec ‘N’ Roll temos garantias, acima de tudo, de que vamos ter um som de bateria real e com uma bateria a soar como nós gostamos, o som de guitarra, a talparede de quatro guitarras ritmo, é captado como nós gostamos. É claro que o facto de gravarmos em analógico faz-nos perder um bocado mais de tempo, mas por outro lado agrada-nos o resultado e saber que, ainda que perdendo uma tarde inteira para estabelecer um som de guitarra ritmo, é isso que acaba por valorizar sonoramente o álbum em termos finais.

E como é que surgiu a hipótese de masterização na Alemanha e porquê essa escolha?
Nós já tínhamos trabalhado com o Tommy Newton no álbum anterior, no “Turbulence”. No fundo as coisas sucederam-se assim, o Tommy Newton produziu os últimos álbuns de Tarântula e começou a masterizar grande parte dos trabalhos que os irmãos Barros gravavam e produziam no estúdio, ou seja, há uma relação de grande intimidade entre o material que sai dos Rec ‘N’ Roll – o Tommy Newton já sabe aquilo com que vai contar e já sabe as equalizações e a melhor forma de equalizar aquilo que vai receber dos Rec ‘N’ Roll. Nós, na altura do “Turbulence”, estabelecemos contacto com o Tommy, falámos de orçamentos e concluímos que era uma óptima opção e ficámos tão agradados com a masterização que voltámos a apostar nele para o “Zoom Code”.

Nunca tiveram receio de “soar a Rec ‘N’ Roll”, houve uma altura em que toda a gente gravava lá, toda a gente soava ao mesmo.
Eu já tive esta discussão inúmeras vezes, ao ponto de a certa altura deixar de tentar defender a bandeira dos Rec ‘N’ Roll, porque a partir do momento em que estamos convencidos com o som que conseguimos lá, é isso que interessa. Mas, voltando atrás, eu percebo o que estás a dizer. Realmente, até meados dos anos 90 tudo o que saía do Rec ‘N’ Roll soava basicamente ao mesmo, mas a minha teoria é que tudo o que saía soava ao mesmo, porque as bandas soavam todas aomesmo, havia vinte bandas de death metal a soar todas ao mesmo, com má coordenação de bateristas, com má execução de guitarra, havia vinte bandas de black metal a soarem todas ao mesmo, aquela explosão de bandas a soar a Cradle Of Filth, com teclados e não sei quê, portanto é lógico que por muito bons que os estúdios sejam nunca conseguirão fazer milagres em relação a isso. Mas também sinto que a partir do fim da última década, as bandas, esta nova geração onde, modéstia à parte, nos incluímos, começou a abordar a música doutra forma. Duma forma não tão naif e isso também implicou uma evolução em termos técnicos, também a nível do próprio conceito das bandas e isso nota-se porque nos últimos tempos têm saído algumas coisas dos Rec ‘N’ Roll e garanto-te que não soam todas ao mesmo.

Ao vivo como é que fazem para compensar esses elementos externos e mesmo a construção de pistas que fazem (falavas do corpo de guitarras ritmo)?
Actualmente, os temas do novo álbum vamos começar a tocar com uma click-track ao vivo: o nosso baterista vai estar de metrónomo no ouvido e tudo o que é electrónica e, neste caso, também os solos de violino, de concertina, é tudo disparado pelo PA. A parte das guitarras, em estúdio temos sempre as quatro guitarras ritmo, mas cada uma delas com pouca distorção, ao vivo a forma de compensar isso é cada um de nós, como somos dois guitarristas, aumentar um pouco mais a distorção e acabamos por conseguir na mesma a parede de guitarras que obtemos em estúdio.

GEAR - Guilhermino Martins
• Fender Stratocaster USA
• Pedais Analógicos Boss: distorçor, flanger, delay
• amp valvestate v100

Nero

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