Press - Interviews
01st August 2008
Interview for HornsUp

Decodificado

Com mais de uma década de existencia e quatro álbuns lançados, o ThanatoSchizo conseguiu se tornar uma referência no Metal português, conquistando cada vez mais público com sua sonoridade pouco convencional. O guitarrista Guilhermino Martins falou a HORNSUP sobre como anda atualmente a vida da banda e, principalmente, sobre o novo álbum, “Zoom Code”.

O que “Zoom Code” representa na carreira da banda?
Acima de tudo, representa o passo mais maduro da nossa carreira. Com este álbum sentimos ter atingido um estilo de música muito nosso, livre de fácil categorização e, mais do que nunca, bastante personalizado. É possível que esse afastamento perante formatos pré-estabelecidos vá, numa primeira fase, tornar o CD menos acessível a uma parte do nosso potencial público pois, parece-me, este registo requer várias audições e, acima de tudo, uma predisposição para ouvir algo menos óbvio. Sempre sentimos ter criado álbuns completamente alheados dos contextos conjunturais e das diferentes fases que o Metal ia atravessando. Isso acabou por exigir dos nossos fãs uma sensibilidade extra para acompanhar a nossa evolução e com o novo álbum voltámos a desafiar os ouvintes, não lhes apresentando mais do mesmo. E que fácil seria gravar um Turbulence – pt II, dadas as reacções que o álbum de 2004 teve.

Como uma música do ThanatoSchizO toma forma?
Sempre na sala de ensaios, sempre com o maior envolvimento humano possível. Apesar de cada vez mais utilizarmos a tecnologia ao serviço da nossa música, o acto de composição e, principalmente, os arranjos dos temas ocorrem com a participação de toda a banda, com os membros a olharem-se olhos nos olhos e a sentirem o pulsar do tema tocado em conjunto. Talvez seja essa uma das justificações para o lado exótico do nosso som, para além de outro factor óbvio que é a ausência de limites quando estamos a criar um novo tema. A única pressão que sentimos é a de cada música nos realizar musicalmente e, é óbvio que os temas só ficam terminados quando a satisfação é unânime. Aqui e ali são necessárias algumas cedências – algo natural tendo em conta que a banda é formada por seis pessoas – mas, acima de tudo, o sentimento de responsabilidade e união anula qualquer possibilidade pontual de ego ferido.

Como pode ser observado na vossa discografia, não se apegam a modas, nem a um modelo previsível. Quando começam a criarum disco, já tem uma vaga idéia de como irá ficar como um todo?
Precisamente! Esse lado imprevisível da nossa música acaba por ser, também ele, fruto da forma despreocupada e livre de preconceitos com que abordamos o acto de composição. Não há, de todo, uma ideia previamente estabelecida de como um CD de ThanatoSchizO irá soar. Ao longo do tempo vamos evoluíndo como pessoas e músicos e, por isso, é natural que nos sintamos tentados a pisar novos territórios. Acima de tudo seguimos o nosso instinto e procuramos criar a música que, em determinada altura da nossa carreira, queremos ouvir.

O Luis e o Paulo Barros (estúdio Rec´n´Roll, Portugal) assim como Tommy Newton (Area 51 Studios, Alemanha) já praticamente fazem parte da banda. O lema é: “Em time que está vencendo não se mexe”? Têm pretensão de trabalhar com outros produtores no futuro?
É possível mas, por esta altura, ainda não começámos a pensar no próximo passo discográfico, por isso é-me difícil concretizar uma resposta em definitivo. Até agora estamos bastante satisfeitos com o trabalho dos irmãos Barros nos Rec’n’Roll. A percepção que temos é a de que os estúdios se foram reformulando e actualizando da mesma forma que nós, enquanto banda, fomos crescendo e, até agora, sentimos terem sido o estúdios perfeitos para captar a nossa sonoridade. No caso do Tommy Newton, ele é a garantia de que a masterização vai apresentar o equilíbrio que pretendemos e, por isso, foi a escolha natural até aqui.

Como a crítica e o público tem reagido a “Zoom Code”?
Globalmente muito bem! Tendo em consideração que apresentamos um estilo tão único, as reacções têm sido bastante positivas. Numa primeira fase pareceu-me que o álbum estava a ser recebido com alguma estranheza – mais do que a habitual que, usualmente, rodeia os nossos lançamentos – mas, lá está, à medida que as pessoas foram dedicando mais tempo ao CD, começaram a envolver-se e a deixar-se “tocar” pela nossa música. Provavelmente, aqueles que começaram a acompanhar a nossa carreira apenas no álbum anterior – desconhecendo, por isso, a nossa propensão para evitar o óbvio – podem, numa fase inicial, ter estranhado a direcção de Zoom Code. Contudo, acredito que os nossos fãs têm crescido connosco e, parece-me, a forma adulta como encaramos este estilo de música tem-nos granjeado inúmeros adeptos.

Acredita que a aceitação, a nível de público, de projectos mais abrangentes dentro do Metal tem aumentado? Isso refl ete de que maneira sobre a banda
Essa aceitação acaba por, a médio prazo, se reflectir em bandas como os ThanatoSchizO. Tudo porque é natual que os miúdos que há “dois dias” andavam a ouvir Evanescence e “ontem” ouviam metalcore sintam necessidade de procurar algo mais genuíno e, nessa altura, haverá bandas como nós com as quais se poderão identificar. Deste lado não há propriamente uma alteração de carácter, nem da forma como percepcionamos a nossa música. Apenas sentimos que, cada vez mais, temos as atenções viradas para nós e isso agrada-nos uma vez que consolida a nossa relevância artística.

Como o cenário da música extrema em Portugal os tem tratado durante esses 10 anos de banda?
Honestamente penso que a “cena” em Portugal não existe e, talvez por isso, não aconteceu até agora uma verdadeira vaga de exportação de grupos nacionais, tal como aassistiu em meados dos anos 90 a Noruega e a Suécia e, mais recentemente, a Dinamarca e a França. A possibilidade de uma New Wave of Portuguese Death Metal poderia, há 4/5 anos atrás, ter dinamizado a tal hipotética “cena”. Assim, desta forma, continuam a ser poucas as bandas portuguesas a vingar lá fora. Claro que há imensas bandas/promotores/jornalistas nacionais com os quais temos as mais positivas relações de cordialidadee amizade e, penso que, assim que começámos a provar o nosso valor, as pessoas encararam-nos de forma séria.

Como conseguiram assinar com a editora italiana My Kingdom Music?
Assim que recebemos o master do novo álbum fizemo-lo chegar a um número limitado de editoras e a My Kingdom Music foi a primeira a contactar-nos, apresentando uma entusiástica proposta para lançamento do disco. Além disso, são uma editora com algumas bandas que seguimos de perto (Klimit 1918, Rain Paint, Crowhead) no seu catálogo e a opção acabou por ser natural. Eles estabeleceram um extensíssimo plano de promoção do registo e, até agora, estamos bastante satisfeitos com a forma como as coisas estão a acontecer.

Como tem uma editora estrangeira, já tem planejadas algumas datas fora de Portugal?
Já tivemos um concerto em Zamora (Espanha) há cerca de um mês e, sim, há a possibilidade de alguns concertos pontuais no estrangeiro nos próximos tempos. Ao longo dos anos fomos recebendo alguns convites para tocar em festivais lá fora mas uma das “regras de ouro” deste grupo passa por não ter de despender dinheiro para tocar ao vivo. A forma como gerimos a nossa carreira não contempla essa via e, como tal, fomos obrigados a recusar essas possibilidades.

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